A Vaca e o Brejo

Vaca no brejo é rua sem saída, porta sem trinco, é cobra fumando.

terça-feira, julho 24, 2007




Nestes dias difíceis de páginas e páginas escritas, algumas poucas palavras seriam suficientes para solidariedade com os mortos e com os brasileiros decentes:

Asco



Nojo



Vergonha



Raiva

Quem o inferno os espere bem quente!

sábado, julho 14, 2007


O David Coimbra escreve bem demais. Escreve tão bem que se eu não fosse modesto, diria que ele escreve quase tão bem quanto eu.

Gostar do que um cara escreve, não significa necessáriamente concordar. Eu quase sempre concordo com o que o David escreve, especialmente quando relata peitos e bundas cheios de curvas e quando fala bem do Grêmio.

Mas ontem após o Lulla levar aquela vaia mais do que tardia e do que merecida ele arriscou entrar na política. E escreveu com a graça e talento de sempre:

A vaia do Maracanã ao presidente Lula foi maciça, foi pesada e foi humilhante.


Até aí nota 10 para o David. A vaia foi tudo isto e foi, ainda, constrangedora até para o Vavá. O Lullinha, se estava olhando na TV deve ter se escondido atrás de uma montanha de dinheiro que ganhou da telefônica aquela para fazer não sei o que.

Mas seguiu o David:

Mas há um aspecto nessa vaia que não se pode deixar passar: foi a vaia do Rio de Janeiro branco. Onde estavam os negros na linda festa do maior templo do esporte mundial? Onde estavam os pobres que todos os dias atormentam os motoristas nos sinais de trânsito, esmolam nas esquinas, balançam nos trens e nos ônibus lotados? Quem atravessou a cidade da Barra da Tijuca ao Maracanã viu onde eles estavam: nas favelas pingentes, nas malocas infectas, vivendo no fedor do mangue, entre balas perdidas e papagaios empinados.

Isso não desmerece nem desautoriza a vaia do Maracanã. Os bem nascidos e bem alimentados também têm direito à vaia, e foram 90 mil bem nascidos e bem alimentados que vaiaram o presidente. Mas foram, sim, os bem nascidos, os bem alimentados.

Eu estava no Maracanã. Eu vi: eram todos limpos, corados, vestidos de acordo com a moda, caminhando sorridentes com seus filhos pela mão. Repito: não havia pobres no Maracanã. E repito: isso não torna a vaia menor.
(...)
Lula veio deste Brasil. Do Brasil negro. Provavelmente mereceu a vaia. Mas quem o vaiou vem de um lugar do qual ele jamais pertenceu. E talvez tenha sido esse o motivo de ter sido a vaia tão maciça, tão pesada, tão humilhante.


Citando o Paulo Bro sou obrigado a dizer para o David:

- Discrepo meu caro. E discordo por duas razões bem objetivas.

A primeira é de que na fila para entrar no Maracanã tinha gente de todas as cores e classes de roupas. Peruas e puidas desfilavam lado a lado.

A segunda e mais importante: o Brasil que vaiou o presidente não foi aquele dos grotões. Não foi aquele comprado com bolsa-esmola. O Brasil que vaiou o presidente é aquele que, de esquerda, direita ou centro está cansado, enojado, puto da cara de ler e ouvir sobre mensalão, Lulinha, Vavá, Renan Calheiros, operação Navalha, etc., etc., etc. E está com nojo, com asco de ver o presidente a cada escândalo tirar o dele da reta e fazer de conta que não é com ele.

Foi este Brasil que vaiou o panaca. E eu me senti, pela primeira vez, muito bem representado.


quarta-feira, julho 04, 2007




Pois na Panela o Charles se queimou por causa de uma crítica a uma suposta escritora chamada Cecília Giannetti. Aí o Janer foi atrás de algum escrito dela e apareceu com um negócio chamado Foi poeta. Parece que escrito na Folha.

Comecei a ler.

FOI POETA. Não, mais do que isso: soube escrever extremas-delicadezas, chegou a distribuí-las entre amigos e livros. Foi delicada um dia, mas perdeu esse detalhe como quem deixa um anel sumir pelo ralo.



Começou mal pensei. Me irritam estes textos cheios de clichês e de idas e vindas. Me irrita mais ainda ler frases que não dizem nada com nada. Leia 10 vezes este texto acima e tenta explicar. Duvido que consiga.

Mas segue a menina:

Andou por andar, subindo e descendo a Paulista, entrando pelas transversais onde pequenos bares aconteciam. O calor incomodava; o mundo, nitidamente, pretendia derrotá-la, e quase voltou para casa. Por acaso, quando procurava um táxi livre, enxergou num rapaz que bebia cerveja algum motivo para ficar na rua até mais tarde. Não calculou entrar no bar, não decidiu sentar-se ali também e acabou fazendo tudo isso.



O que é acontecer um pequeno bar?

O rosto dele era familiarmente estranho: não o conhecia, mas o conhecia bem à beça. Ele carregava o jeito de algum amor de décadas antes, exibia tatuagens similares, curvas de músculos que ela não saberia mais como desenhar com as pontas dos dedos. A pele e a turma do rapaz indicavam que haviam passado há pouco pelo fim da primeira adolescência e agora embarcavam na segunda, que duraria até pouco depois dos 30 anos. Podia ser que tivessem 20 e poucos, podia ser que tivessem ainda 20. E ela, toda ela agora eram vírgulas fora de lugar, pregas e vincos.


Paro por aqui que nem a meus inimigos desejo mais disto.

Mas o Charles defendeu a “Ciça”:

- Janer, não é por você não gostar de um autor que esse desgosto é regra universal...

Ao que o Janer rebateu:

- Sei disso, Pilger! Não me pretendo regra universal. Mas então, por favor, me conta o que a moça quis dizer naquela crônica. Com todos meus anos de estudos, não consegui entender. Estou cansado de textos que nada dizem. Please, resume! Interpreta! Fico à espera.

Claro que vai esperar sentado que esta zinha não tem nada para dizer mesmo e ninguém que tenha 3 neurônios vai achar sentido na literatura de quinta da menina.

Mas seguiu a discussão quando o Erny lembrou a Lya Luft:

Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem.


O papo pulou da Lya para a Clarisse Lispector. Três ou quatro admitiram não gostar dela quando a Maria se manifestou aliviada:

- Puxa vida, eu também não (suporto a Clarisse) e sempre me achei uma estranha no ninho por não gostar, a clarice tem um psicologuês insuportável para mim.

Aí um outro jogou mais pesado, voltou para a Lya e lembrou um jantar que teve com ela:

- Essa mulher é muito presunçosa e arrogante. Falou dela o tempo todo, sem nenhum interesse no que os outros tinham a dizer. Um saco. Prometi nunca ler um livro dela, na época ela estava começando a ser "escritora". Já era carreirista. Por outro lado, já era também um barril, que não sei como teve uma aventura extra-conjugal. Tem gente que come qualquer coisa.

Pois dizem que psicanalista come qualquer coisa. Parece que foi o caso. Aí fiquei pensando. Se esta Cecília for também um barril, tá explicado porque é tão ruim. Vai ver não achou ainda um psicanalista disponível. Se bem que nem psicanálise conseguiu melhorar a Lya. Nem como escritora e nem para desinflar.