A Vaca e o Brejo

Vaca no brejo é rua sem saída, porta sem trinco, é cobra fumando.

segunda-feira, março 27, 2006




Um amigo propôs uma questão:




Que tal olhar essa coisa de eleição sob uma ótica de vergonha na cara, não deles os coletores de impostos (políticos), mas nossa, de participar de outra farsa?


Outro tentou respondê-la:





Alhures, tu o disseste: o sistema esta lubrificadíssimo, hace muchissimos anos. A tentativa de mudanca por dentro, buscando eleger-se,bate frontalmente com a necessidade de adentrar os métodos e modos, um mínimo de uma década de negociações até um nome de fato habilitar-se a ser eleito. Nisso, o 'processo' já processou o nome eficientemente, é claro, dívidas para cá, rabos para lá, etc., etc. e muita nauseam.
Tentar mudar por fora implica gigantesca inércia, uma gincana repleta de obstáculos só superaveis por lides e envolvimentos com os métodos e modos, um mínimo de uma década de negociações até o projeto poder ser uma proposição de fato viável. Nisso, o 'processo'...
But you've caught my drift, I presume.
E, por tabela, o lubrificante escorre e resulta que ninguém sério quer envolver-se seriamente com tratos políticos, porque, mm, como eu disse, o lubrificante escorre, e pataqueia tudo.
Embrulhadíssimo pacote, difícil de escapar. Como já se disse, a democracia e' mesmo uma merda. Urge torná-la superada.
Algum candidato?



Eu não ouso ter a resposta.

Primeiro porque não sei o que seria tornar (a demo) superada. Da mesma forma que o meu amigo acima, acho a democracia representativa uma merda, mas ainda a melhor de todas as soluções.

Por outro lado, estes caras aí, Lullas, Tassos, FHC´s, etc., etc. estão numa esfera que não conseguimos tocar.

Ficamos indignados. Mas e dai? Isto é bom ou ruim?

Às vezes, penso que somos, eu e certamente você que perde seu tempo lendo a Vaca, uma classe nascida para ser amarga, descrente.

Temos consciência da merda toda mas somos impotentes. Melhor seria, (quem sabe?) ser um ignorante para quem o mundo se resumisse à novela das 8, Big Brother, time do coração e a crença que todo o governante de plantão é um pai pronto para nos ninar e trazer conforto.

Saídas? Já perdi a esperança.

Uma coisa é certa, certíssima. No Brasil, democracia representativa, comunismo castrista, demagogia rasteira bolivariana, capitalismo selvagem, tudo, mas tudo mesmo, é desmoralizado pela classe dos políticos que (e agora faço cara de ironia) nos representam.

Aquela puta velha dançando no congresso pode causar tudo, menos surpresa, que tudo se pode esperar de todos eles, sem tirar nem o Simon que julga ser o bom samaritano.

sábado, março 18, 2006


Entre as várias coisas que me incomodam, nada me deixa mais chateado que ser feito de bobo. Isto que todos nós somos feitos de bobo todo o santo dia, para não dizer toda a santa hora. Mas não tem jeito. Não acostumo mesmo.

E governos, qualquer um, são especialistas em mentir, em criar versões que lhes interessam. Pouco importa se vão atingir A, B ou C. Tudo vale para se manter no poder.

Agora mesmo, aprontaram uma para cima do caseiro da famosa casa das orgias e negociatas, não necessariamente nesta ordem. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento da alma humana sabe que o Francenildo estava falando rigorosamente a verdade. Nem isto impediu que os escrotos tentassem criar fatos que pudessem destruir com o caseiro.

Ficamos nós aqui, tendo que filtrar tudo que chega para não servir de otários.
Pois há 2 semanas teve uma amostra boa do abismo que há entre a versão de uma notícia e o fato real.

Saiu num jornal da APUFSC (Associação dos Professores da UFSC) a seguinte notícia:

O professor Fulano de Tal sentiu-se mal no último sábado, quando dirigia no bairro onde vive, em Florianópolis, conseguiu parar o carro, mas ficou desacordado. Em vez de receber a ajuda que necessitava naquele momento, foi hostilizado pela Polícia Militar ao ser encontrado dormindo dentro do veículo. Foi algemado, jogado em um camburão e levado a uma delegacia.


Vamos combinar que é uma notícia estranha. Por mais despreparada que se diga que é a polícia, não é muito crível que encontrem um pobre velhinho desacordado e saia a dar bordoada no mesmo.

No mesmo dia um jornal trazia o mesmo assunto com a seguinte versão, nas palavras da vítima:

Eu saí, parei num bar, tomei uns 2 cálices de vinho e comi carne. Na volta me senti mal e parei na estrada. Não sei se ofendi a polícia pois me deu uma amnésia. Só sei é que quando vi, estava sendo agredido.


Bem igual, não?

Nada justifica a polícia agredir ninguém, mas também, a ninguém ajuda transformar a notícia en versão para atingir objetivos subterrâneos.

Moral da história. Será que tem?

sábado, março 11, 2006

A Vaca e o Brejo não tem títulos nos posts. Isto é proposital. É que o que mais sei fazer são bons títulos. Depois eles são desperdiçados e morrem em textos inferiores. Como A Vaca não é assassina, livra os bons títulos da agonia.

Pois eu pensava ser o único, mas um amigo meu na Panela, que é uma lista da internet que não é para qualquer um, tem a mesma mania. E escreveu um texto genial sobre isto. Como eu ando sem inspiração transcrevo o texto dele e os desdobramentos.

O Momento em que Acordas.

By Arnaldo

Algumas vezes me sinto um mestre em títulos. Em geral depois de escrever o título é que vou pensar em alguma coisa sobre o assunto evocado. Sai qualquer coisa, uma fieira de palavras é também uma cabala. Mas desta vez pensei antes.

Afinal para quê acordar? Não é tão bom dormir? Vontade de dormir quando acordado é fácil, mas vontade de acordar ninguém tem ou sente quando está dormindo. Talvez lá, uma vez, o tio de um amigo tenha tido um enteado que..., mas assim, pessoas normais e corriqueiras como eu, não. Por inferência, os mortos não querem estar vivos.

Vontade de consciência sem consciência não rola e o Sartre podia ter incluído essa bobagem naquela gozação filosófica que é O Ser e o Nada (eu curto o cara como romancista e o considero entre os melhores, mas como filósofo é só ler o Diário de Uma Guerra Estranha para sentir a armação da gozação, ou talvez da pura besteira).

Vai daí, um aplique óbvio. Manual de Gestos para Acordar. Não um kata(?) completo... algo mais simples, mas que necessite que o elemento esteja acordado e esperto ( transar não vale, a menos de filmagem ou ritual econômico, ninguém transa esperto ).

Lavar o rosto com as costas da mão pode ser interessante. Algo nessa linha e tudo oferecido como um curso como tantos de Hipnologia, Yoga-menstrual, etc...

É uma grande sacanagem embutir na rotina de alguém um pensamento do qual a vítima sempre vai lembrar e é totalmente inútil e prejudicial. Lavar o rosto com as costas da mão é uma experiência inesquecível pela complexidade e perigo. Deus é outra.


Aí o Ico retrucou, sem colocar título:

Pos Arnaldo,

Falas em lavar o rosto como experiência inesquecível, complexidade, perigo... E, no rastro, vem Deus. Ai, eu meio dormindo, mas recém-acordado, lembro de uma reflexão que penso ser do Morin. Ele escreveu que, ser o universo finito ou infinito, não muda nada em relação à irritação que a certeza causaria ao intelecto. Aqui, penso eu, a incerteza do acordar não deixa de ser um motor contra a certeza do dormir, até amanhã ou até não mais.

E Deus... Haverá de ser irrritante para o sapiens ter a certeza de que ele existe. Ou de que não passa de uma muleta antropológica. Nem todas, mas algumas certezas, notadamente as que envolvem complexidades, são irritantes. Mais até do que banhar-se em cinzas humanas. E chorar não resolve, pelo singelo motivo de que é possível enxugar lágrimas tanto com a palma como com as costas da mão.


E levou o retruco do Arnaldo.

Ai O.

"... é possível enxugar lágrimas tanto com a palma como com as costas da mão."

dependendo do contexto pode ser uma conclusão metafórica e tanto, de qualquer forma é uma frase que já valeu os textos que levaram a ela.


De repente, o Bro, que é um muito competente estraga-festa, meteu a colher, com um título sugestivo:

A inconsutil dureza do ser

Tal frase é e será sempre, necessariamente, uma metáfora:

Lágrimas não se enxugam, não se secam.

Lágrimas só são e só serão lágrimas na esfera do olho (terrível trocadilho, intencional ainda por cima). Enquanto na conjuntiva, derreando-se sobre o tarso, eventualmente ate o limite extremo de um cílio, serão lágrimas. Ao escorrer, na face, ao pingar onde pinguem se pingarem, fora do olho lágrimas são não mais que uma umidade corporal. Como saliva, suor, sebo. Aquela água, fora do olho, não tem mais identidade.

Não se pode enxugar lágrimas.


Ao que a To, que tomou banho em piscina infestada de cinzas humanas perguntou ansiosa:

E o sal, onde fica?
Tem mais sal que água.
Esse negócio de não poder
enxugar me deixou desolada.
O Ico voltou à carga, provocando o maldito estraga-festas:

Tecnólogos vestidos a caráter,
trazem conceitos pra matar o germe
de um devaneio matinal cheio de humores.
Com vademécum portado a tiracolo,
vêm fazer troça, com sombras exatinas,
sem perceber que o bom da purpurina
é quando cintila solta, sem beijar o solo.
Fica tranquila, filha de alemão,
podes enxugar todas que tu queiras,
não deixe que um guru fora de hora,
te leve aos braços da desolação.
Aceita o ensinamento (um quase apelo):
lágrima se enxuga, sim senhora.
Tudo o mais que se diga é enxugar gelo.


Tal qual um Erasmo de um Roberto Carlos, o Arnaldo ajudou:


...lágrimas frias,
quase gelo escorrendo pelo pelo...

E o Ico complementou:

Lágrima quente:
rio de rímel.
Qualquer ponte é inverossímil.