A Vaca e o Brejo

Vaca no brejo é rua sem saída, porta sem trinco, é cobra fumando.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008





Os cartões corporativos me deixaram nauseabundo. Então, cansado de falar mal desta gentalha, resolvi mudar de assunto.

O Orelha é um elemento meio esquisito. Além do adereço que justifica o apelido é metido a criar joguinhos.

Outro dia ele estava com um problema sério. E expôs o problema:





  1. Alguém pode em poucas palavras me explicar o "prisioners dilemma"?que trata de cooperação em jogos, etc, etc?
  2. Antes que alguém pergunte para que isto, explico: tenho 383 questionários respondidos sobre 8 comportamentos de jogadores de RPG on-line, que preciso embasar para poder publicar. Se alguém se interessar, eu conto quais são os 8. Adianto alguns:- Agressividade- cooperação- fuga da realidade (como eu traduzo isto para o inglês?)- fantasia- poder- ...

Aí o Luis Felipe Martins respondeu para o elemento. Como gostei e achei interessante partilho.

Orelha: Tem um livro excelente que o nome é "The prisioners dilemma", de William Poundstone.
O dilema é explicado melhor em termos de um exemplo diferente do original.





Suponha que você roubou uma joalheria e está com uma mala cheia de muamba.
Aí, você entra em contato com um comprador que oferece 1 milhão de dólares pela muamba. Por razões de segurança, nenhum de vocês dois quer se encontrar com o outro.
Aí, vocês inventam o seguinte esquema:

Por telefone, vocês escolhem dois locais separados em um parque, A e B. Numa hora combinada, vocêcoloca a muamba em A e o comprador coloca o dinheiro em B.
Depois,você coleta o dinheiro em B e o comprador coleta a muamba em A.

Mas aí, você começa a desconfiar do comprador, e raciocina que há quatro possíves resultados na transação:

  1. Tanto você como o comprador colocam a muamba/dinheiro onde combinado.
  2. Você coloca a muamba em A, mas o comprador não coloca o dinheiro em B.
  3. Você não coloca a muamba em A, mas o comprador coloca o dinheiro em B.
  4. Nem você nem o comprador colocam a muamba/dinheiro onde combinado.

Do ponto de vista coletivo, o melhor resultado é (1), por que os dois conseguem o que querem. No entanto, do seu ponto de vista pessoal, o melhor resultado é (3), pois neste caso você fica tanto com a muamba como com o dinheiro. Isto indica que a melhor alternativa para você éNÃO colocar a muamba. Além disso, neste caso, mesmo que o comprador não coloque o dinheiro, você não perde nada, pois pelo menos fica com a sua muamba.

O problema é que, como voce assume que o comprador seja tão inteligente como você, ele também irá concluir que o melhor a fazer é não deixar o dinheiro em B.Mas então, a consequência dessa trama toda é que o resultado da transação é a opção (4), que, coletivamente, não agrada nem você nem o comprador.
(Ponto técnico: a opção (4) é o que se chama de "equilíbrio de Nash": se os dois jogadores inicialmente adotarem esta estratégia, nenhum terá incentivo para, individualmente, mudar de opção, pois nesse casoperde tanto a muamba como o dinheiro).
O dilema do prisioneiro é usado como um modelo para ilustrar como indivíduos, em certas situações, apesar de terem a intenção inicial de cooperar, acabam escolhendo estratégias não-cooperativas. Socialmente, a solução de tais dilemas é, frequentemente, criar uma alternativa no jogo que é PIOR que a não cooperação. No exemplo, você e o comprador combinariam se encontrar em um único local, e vão protegidos por um bando de capangas armados. Aí, se algum não levar a mercadoria, há um fuzilamento mútuo, que deve ser evitado a todo custo. A questão de como saímos deste tipo de situação tem sido estudada por sociólogos há anos. Há um livro muito bom de um cara chamado Axelrod,que dá uma solução evolucionária, onde populações de indivíduos interagem num simulação.
A formulação original do dilema envolve dois suspeitos de um crime que são interrogados em separado. As quatro opções neste caso são:

(1) Nenhum dos dois confessa. Neste caso, os dois serão libertados.
(2) A confessa e implica B, e B não confessa. Neste caso, A recebe uma pena leve e B recebe vários anos na cadeia.
(3) B confessa e implica A, e A não confessa. Neste caso, B recebe uma pena leve e B recebe vários anos na cadeia.
(4) A e B confessam. Neste caso, os dois recebem uma pena intermediária.
Obviamente, o melhor resultado coletivo é (1). No entando, os dois prisioneiros receiam não confessar, pois os resultados (2) e (3)seriam desastrosos para para um deles. Então, o resultado acaba sendo(4), que não é bom para nenhum dos dois.




quarta-feira, fevereiro 06, 2008




A Alcinea Cavalcante, vocês lembram, teve um blog censurado pela matilha dos Sarneys. O Sarnoso não perdoa. Tem uns posts aí embaixo sobre o assunto. Saiu em tudo que é lugar da mídia.
Pois eu não tive o blog censurado, porque poucos o lêem, e sai de um longo descando, que na verdade era falta de saco em ser recorrente, por conta de duas coisas.
A primeira relacionada com a Alcinea. Ela lê, ou lia o meu blog. Outro dia vi um comentário dela num post e resolvi dar uma passada no blog dela.
Sabem o que encontrei? a seguinte informação do Blogger:

Este blog está aberto exclusivamente a leitores convidados
http://alcineacavalcante.blogspot.com/
Parece que você não foi convidado para ler este blog. Se achar que trata-se de um engano, recomendamos que você entre em contato com o autor do blog e solicite um convite.
Fiquei pasmo e depois assustado. Chegamos a este ponto. Jornalista, que vive da opinião, ser obrigado a filtrar quem lê suas opiniões. Acho que nem Fidelito Sarcófago Castro teve este poder.

A outra coisa que me fez escrever aqui de novo, tem alguma relação com o caso da Alcinea. Trata de jornalismo, ou de jornalistas, para ser mais exato. Muito interessante e foi escrito pelo Arnaldo Sisson, com o talento, a frieza e o desencanto de sempre. Repasso sem pedir licença, porque aqui não preciso, ainda, distribuir convites.

Já falei (errando o nome do livro para melhor) sobre "O Triunfo da Picaretagem" de Francis Wheen. Estava lendo em visitas e agora botei a mão no bruto, chama-se "Como a Picaretagem Conquistou o Mundo". Divertido e muito esclarecedor.

Fiquei a pensar, de leve para não doer, sobre o quê tem os professores das matérias ditas ciências humanas (em estranha oposição a exatas...) para fazer. Quase tudo ali é bobagem. Nunca existiu o " Problema do Conhecimento". Esses dias ouvi quieto um elogio a sacação do mito da caverna porque provinha da esposa de um amigo, daquelas que vem com "como tu pode pretender que... se os phd e JCs acham isso e aquilo... então parará...".

Incorporei que o silêncio nem complica nem explica e quase sempre se aplica. É, das posturas sociais decadentes, uma das mais atraentes e fáceis. As opiniões de ninguém interessam, as minhas menos ainda.

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A falta de cordialidade na forma de tratar irrita, a falta de cultura não. Um jardineiro mediamente competente falando sobre seu trabalho é muito mais interessante do que qualquer dos crônistas brasileiros atuais. Taxista e prostituta então, nem se fala, dão de dez em qualquer deles.

Tem uns que se especializam em assuntos e repetem a ladainha como professores repetem aulas. Dos que estão empregados, nenhum chega a comentarista, no máximo fofoqueiros sobre assunto no qual não tem a menor ingerência. Evidentemente sabem até onde podem publicar, são coniventes com o resto. Como todos nós. Eu, pelo menos.